"Isso não é vida. Não posso entram em um shopping, um super-mercado as vezes, mas o lugar mais assustador mesmo é aniversário de criança... E no centro da cidade perto de determinados restaurantes. A verdade é que nunca se sabe onde eles vão estar, como vão se disfarçar e se irão tentar te perseguir desta vez ou só passar adiante e te deixar viver para morrer de medo de novo no dia seguinte.
A verdade é que sair de casa começou a ficar difícil depois dessa quarta-feira, dia 4 de abril do ano de 2012 e eu vi um deles andando perto do campus, segurando alguns papéis suspeitos e perseguindo algumas pessoas entre os prédios batizados com nomes de pessoas que doaram pequenas fortunas para a faculdade. E eu achava que a faculdade era um lugar sagrado e que nunca veria um deles andando entre bibliotecas e auditórios. Como estava errado.
No momento que o vi, em sua endumentária assustadora, senti o golpe da adrenalina encharcando minhas veias, palmas das mãos e axilas suando, suando, e sei que se alguém conhecido me visse iria notar uma palidez de quem acabou de ver um fantasma passando na rua em minha face, provavelmente meus lábios se tornaram azuis ou roxos, e quem me visse saberia que eu estava completamente apavorado. Perto de cair duro e morrer, perto de me jogar no chão e gemer de desespero, mas acho que ainda me restava alguma coragem diante deles, da visão apavorante daquelas criaturas.
A única coisa que eu nunca permitiria que eles me roubasses era minha dignidade. E por isso eu precisava engolir o medo a seco, tentar disfarçar as manchas de suor, o charco, tentar respirar funto para que alguma cor voltasse para a minha face. Ignorei a criatura. Bom, ao menos tentei fazer com que ela não percebesse a minha fraqueza e me perseguisse. Sei como esses bichos são sádicos.
Me esbarrando entre sub-celebridades acadêmicas e alunos escrevendo mensagens de texto em seus telefones celulares, eu consegui entrar em meu escritório.
Em fim, eu estava em paz. Sabia que alí dentro eles não entrariam. Não tinham jurisdição, e talvez apenas não tenham o costume de ir pra lugares onde as plumas ou peles em suas cabeças sejam veneradas e acariciadas pelos passantes que se submetem a maldade desses animais. As crianças são as piores. Porque são tão inocentes, tão novinhas, que não sabem como são perigosos, esses animais. e acabam se aproximando deles, abraçado-os e tirando fotos com eles.
Que perigo!
Quando vejo uma criança assim, vulnerável nas mãos dessas aves de rapinas, e principalmente quando vejo que seus pais deixam que seus filhos corram esse risco entro em desespero. Será que eles não sabem o que são aquelas criaturas? Não sabem o que significam essas plumas tribais ou as peles de animais adorando o corpo desses monstros?
Antes de conseguir controlar o meu batimento cardiaco, sem conseguir me controlar, olho através da minha janela e vejo um deles, todo trajado de branco, que ironia, dando seu abraço rapino em uma pequena criança acompanhada com sua mãe um pouco mais velha que uma adolescente.
Não consigo mais controlar minhas emoções. A adrenalina, o medo, o pavor fervem o meu sangue até que todo medo se evapora em anéis de fumaça de raiva. Não consigo mais viver assim, deixando que eles nos dominem.
Pego meu revolver .45, guardado na minha gaveta desde que comecei a trabalhar na faculdade. Eu sabia que um dia teria que começar uma revolução contra essas criaturas. Não sei se uma bala é o suficiente para matar esse espécime branco, mas não tenho outra opção se não tentar salvar a vida e liberdade das crianças, dos estudantes, dos acadêmicos, importantes ou não, ou qualquer outra pessoa dominada por eles.
Guardo a arma na minha pasta. Desco as escadas do prédio velho até o primeiro andar. Eu o vejo, ele está na minha mira.
Me aproximo dele devagar, mostrando meus dentes em um esgar de ameaça. Ele me vê e abre seus braços medonhos, mas dessa vez não. Dessa vez eu não vou fugir.
Tiro a arma da pasta. Ele vê o meu revolver e tenta correr de mim, quando eu a aponto para seu peito sem coração. Acho que uma bala vai fazer o serviço.
Miro na cabeça.
Carmim mancha a endumentária branca. O monstro cai no chão.
Pessoas correm ao meu redor. Será que elas já foram tão corrompidas que acham que eu sou o monstro, e não a criatura que matei? Será que não percebem o que eu fiz foi por elas, pela segurança delas?
Escuto duas sirenes ao fundo. Uma delas vem de um prédio próximo, a outra de uma viatura.
Irei pra cadeia feliz. Sei que não há nenhum deles lá.
O policial me algema e depois me pergunta porque, em uma voz exasperada, porque eu tinha atirado no rapaz que trabalhava para uma creche próxima ao campus.
Que rapaz?, eu respondo, mas o policial não precisa se explicar. Enquanto sou forçado a entrar na viatura vejo o outro policial abrir a endumentária branca, e dentro dela esta um jovem adulto. Humano, tão humano.
Acho que a fantasia de pinguim foi arruinada, diz um terceiro policial chegando perto do corpo imóvel, em um tom de quem precisa fazer uma piada pra não perder o controle de si mesmo. E meu sangue congelou nas minhas veias."
Bem, escrevi isso porque vi um cara fantasiado de pinguim andando aqui pelo campus e tive um impulso meio irracional de correr dele. E daí eu me perguntei o que aconteceria se alguém tivesse fobia de pessoas fantasiadas de animais de pelúcia.
Estranho, eu sei...
Mas era o que eu estava a fim de escrever mesmo,
Cambio. Desligo.
Cara, é um bom draft de mini-conto psicopata. Talvez com um texto maior o crescente de tensão se dê de maneira mais épica. Tive algumas ideias no meio do caminho, porque o texto começa parecendo referência/brincadeira de/com um conto de Lovecraft (mas, no texto dele, o monstro era o próprio narrador, e eu juro que fiquei esperando aparecer um monstrinho no final do texto falando "papai, papai!") e em algum momento eu esperei também (sabe-se por que razão, LOL) que o monstro fosse uma pessoa vestida de morsa. Sim, uma morsa. I am the eggman. They are the eggmen. I am the walrus. Goo-goo-g-joob! Goo-goo-g-joob-a-joob! Enfim, mas o pinguim foi épico também. Os penachos. Os penachos estão em todos os lugares. Trabalham para o governo e grampearam todas as minhas contas de e-mail. Filhos da puta. :D LOL Tem um filme muito bom que compila uma série de narrativas psicopatas de Halloween. É meio terror e meio terrir, e se chama "Trick 'r Treat" e é muito bom de ver, mas, aviso, tem uma parte de terror. Thumbs up. :)
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